16 junho 2010

Edgar Kittelman, exemplo de superação

E é em dias de chuva como o de hoje, que tenho tempo de ler, ver videos, reportagens e aprender um pouco mais sobre escalada.
E vou confessar que não tem coisa melhor pra fazer enquanto a rocha tá molhada.
Bem, hoje, além de ver alguns videos do meu amor platônico Alex Huber e do meu tchutchuco Chris Sharma, li uma reportagem muito interesante sobre o grande escalador Edgar Kittelman. aí vai a matéria...
'A história do montanhismo riograndense começou há aproximadamente meio século. Edgar Kittelman, ou seu Edgar como é chamado pelos amigos, teve um dos papéis principais no cenário gaúcho dessa modalidade.

Nascido em Cruz Alta no dia 06 de janeiro de 1933, com um ano e meio mudou-se com a família para Porto Alegre. Foi nessa época que teve os primeiros sintomas da poliomielite.

Na juventude, entretanto, a dificuldade da paralisia infantil foi superada. Seu Edgar driblou as limitações físicas e praticou muitas atividades esportivas, como: natação, caminhada e ciclismo.

"Eu trabalhava com meu tio como pintor em residências finas e namorava as empregadas domésticas dessas casas, que geralmente vinham do interior. Eu sempre fazia questão de conhecer os pais das moças, pois aí arranjava um motivo para viajar de bicicleta. Foi em uma dessas minhas viagens que uma mulher me disse que o seu sobrinho, Sérgio Prates Machado, tinha um clube de excursões. Fui então apresentado ao pessoal do Clube de Excursões Farroupilha", lembra seu Edgar.

Naquele tempo, com mais ou menos 20 anos, o aventureiro acompanhou os já amigos do Clube Farroupilha até o Pico do Itacolomi – uma das feições rochosas mais características do Rio Grande do Sul, cuja fisionomia lembra dois pilares isolados – onde acampariam. Seu Edgar não imaginava que neste momento começava, quase que por acaso, sua trajetória como montanhista.

"Fomos para o Itacolomi no sábado... Fiquei no acampamento entretendo as meninas, tocando gaita de boca. O Sérgio, o irmão dele e mais dois primos se sumiram, ficaram o dia fora, e à noite quando chegaram, eu ouvi uns comentários que tinham que fazer uma escada maior e que teriam que voltar no outro dia... Perguntei então, o que estavam fazendo e planejando. Descobri que eles estavam se preparando para fazer a subida ao pico vizinho, o Pico dos Corvos, que pegou esse nome porque tinha muitas prateleiras, onde os corvos faziam seus ninhos", conta.

No dia seguinte, seu Edgar ficou curioso e resolveu ir junto. "Na Pedra do Covarde fizeram uma escada... Um dos rapazes estava no último degrau, tentado continuar e o Sérgio embaixo fazia a segurança... Neste momento, ele disse para o Roberto deixar a tentativa para outra vez, que daí fariam uma escada maior. Mandou ele pegar a bandeira do clube e fincar no local que deixaríamos para retornar depois... E eu disse que poderia fazer aquilo, já que estava acostumado a trabalhar com escadas de 11 metros. Então, fui até o último degrau, olhei para cima, mas a passagem era impossibilitada pelos gravatás (espécie de planta espinhosa), pela direita também não tinha chance de ir, e à esquerda então eu vi uma plataformazinha. Coloquei o pé ali e com um impulso consegui ficar em pé na pequena plataforma, que era a parte mais difícil da subida. Lá em cima havia um arbusto que dava para amarrar a corda, e foi o que fiz. Logo, todo mundo subiu. Foi emocionante", recorda o pioneiro do montanhismo.

Entretanto, não foi nessa primeira escalada que seu Edgar se apaixonou realmente pelas subidas de montanhas. "Fizemos a parte sul do Itacolomi... e depois eles queriam fazer o lado norte. E eu sempre ficava no acampamento, tocando gaita. Não estava nem aí para a escalada deles...", afirma.

A história do montanhismo no Rio Grande do Sul continua no Itacolomi...

"Era um dia de inverno e um deles gritou para eu ir lá em cima dar uma mão para segurar a corda. O rapaz que a segurava estava com muito frio e queria descer para o acampamento, já o outro que batia os grampos estava cansado de ficar pendurado, pois naquele tempo não existia cadeirinha, a gente se pendurava nas cordas mesmo. Então, ele desceu e me deu segurança para subir. Fui até um ponto e aconteceu mais ou menos como na primeira vez: para cima não dava, na direita havia um precipício, na esquerda tinha uma fenda onde pude colocar a ponta da bota e outra onde coloquei as mãos. Arriscando, sem grampo, sem nada, fiz a travessia de uns sete metros... Depois havia uma canaleta, comecei a limpá-la e consegui subir, praticamente já estava no topo de novo... Nesse meio tempo, o restante do pessoal fez a subida pelo outro lado. A namorada do Elói, um dos rapazes que estava a uns 20 metros de distância segurando a corda, pensou que ele estivesse puxando a cordada e correu pra recebê-lo, gritando - ‘Elói, meu herói! Conseguiste!’-, e eu pensei - ‘É brincadeira, eu faço as coisas e os outros recebem os elogios!’- A partir daí, decidi começar a me dedicar ao esporte", lembra entusiasmado.

Seu Edgar conta que naquela época, tudo era muito diferente. Os equipamentos eram arcaicos e não ofereciam segurança alguma. Os alpinistas na década de 50 eram chamados de loucos, e Edgar Kittelman também não escapou do comentário.

Já tentando conquistar o pico pela parede oeste, o montanhista começou a fabricar seus próprios materiais de escalada. "A parte oeste começou a ficar uma subida mais técnica... Eu descobri um grupo de escoteiros que mandou vir da Alemanha um livro, e por ele fui aprendendo como se amarra as cordas, os tipos de nós, os modelos de grampos... Cheguei a montar uma ferraria em casa, porque os ferreiros só sabiam fazer ferradura de cavalo, não acertavam o formato e cobravam muito caro... Eu mesmo comecei a fazer meus grampos, e fiz muitos... Aí já modifiquei o formato do martelo e os pinos já ficaram menores, comecei a fabricar mosquetão de cano de luz, mosquetão com rosca, tudo adivinhando das revistas que eu conseguia da Alemanha, onde tinha fotografias dos acessórios. Fui inventando e fazendo esse material sozinho, e alguma coisa ainda tenho em casa", comenta.

Atualmente, seu Edgar, mesmo com dificuldade de caminhar por causa das seqüelas da poliomielite, acompanhada de um joelho machucado após uma queda de bicicleta há alguns anos, dedica-se à canoagem, fabricando seus próprios caiaques em estilo bem artesanal.

O montanhista tem consciêcia do que representa para os jovens. "Sou um exemplo para a gurizada, pois tendo dificuldade em me locomover, nunca deixei de praticar esportes", finaliza.

Seu Edgar faleceu esse ano no dia 07 de abril.

Edgar Kittelman sinônimo de força e determinação!'
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